O que queres dizer no fundo
dessas doloridas notas
são traços da minha poesia
que, sem perceber, evocas.

Tuas notas dançarinas
passam de alegre a triste
tu as crias e recrias
mas elas, em mim, existem.

Enquanto brotam de teus dedos
notas de fino tom
dos meus registram-se mágoas
e dores sem menor som.

Como comparas teu canto,
teus arpejos e solfejos
com minhas palavras que contam
o fim destes meus ensejos?

A dor que tu tanto bradas
haver em tuas melodias
mesmo tentando escutá-las
traduzem-se em alegrias.

Minha dor morre sozinha
enredada em suas teias
como as letras dos meus versos
a esperar por quem as leia.

Que podes saber, pergunto,
dos amores que eu perdi?
Como comparas teus tons
com minha ilusão sem porvir?

Alegrias já escrevi,
(nisto tu bem tens verdade)
mas, mesmo onde vejo alegria,
deixo um sabor de saudade.

Meu escrito traz consigo
o som de lágrimas lentas,
choradas na solidão
quando a música se ausenta.

Sem teu som minhas palavras
continuam a existir
mas teu toque, sem poesia,
morre antes de surgir.