A casa onde vivi minha primeira infância tinha um quintal cimentado em forma de retângulo. Em todo seu entorno foram construidos canteiros e minha mãe plantava diversas espécies vegetais neles, entre leguminosas, frutais e flores.
Um dia ela me chamou até o quintal.
Levantando as folhas das plantas maiores, me fez observar uma violeta que nascia timidamente à sombra das folhagens:
- Gaby, isso é uma violeta. Viu que bonita? - me disse.
Eu observava aquela planta tão simples e tão bonita ao mesmo tempo, enquanto ela prosseguia:
- As violetas são plantas muito especiais porque brotam nos lugares mais improváveis, como este, onde quase não penetra o sol. E vistes que bonita? - comentou com um sorriso - Ela não é grandiosa como um girassol, nem formosa como uma orquídea...mas nem sempre as coisas explêndidas são as mais bonitas. A simplicidade pode ser mais bonita que o brilho.
Por alguns minutos fiquei rememorando suas palavras e seu silêncio (que falava tanto) e observando aquelas pequenas folhas liláses que pareciam pedir desculpas por sua passagem. Ela era linda!
Minha mãe olhou satisfeita em ver que sua intenção havia sido atendida com a minha curiosidade, uma característica marcante em sua prática de professora primária: trabalhar o saber a partir do incentivo à curiosidade. Então ela se endireitou, ajeitou as demais plantas e concluiu:
- Mesmo na mais profunda escuridão é possível encontrar a beleza nas coisas simples.
E voltou para a cozinha, me deixando a refletir sobre essa descoberta.